sábado, 11 de abril de 2009

Em Busca do Carneiro Selvagem

Este livro percorre um caminho surreal cheio de conversas e de pormenores que não deixam ninguém indiferente. O interesse do livre ultrapassa a história principal, essa posso afirmar que é a mais banal possível (o caminho para encontrar algo), talvez melhor concretizada por outros autores, como Paulo Coelho. O livro vale pelas histórias que encaixam na história principal e pelos diálogos entre as personagens. A ideia é básica: mais importante do que o resultado é o caminho que se percorre, que por sua vez só tem sentido se se atingir o resultado. Um verdadeiro paradoxo em que o mais só é mais se se concretizar o menos.

Existem pormenores e ideias deliciosos nas conversas entre as personagens. Adorei a parte em que uma personagem afirmava que todos nós somos medíocres, o que realmente nos distingue é que uns são conscientes dessa mediocridade e outros não. Ora aqui está uma verdade incontornável, somos seres de racionalidade limitada. Somos capazes de aprender muita coisa, mas será que existe alguém extraordinariamente inteligente. Quantas vezes descobrimos quebras e falha nos discursos mais bem construídos. Sobre esta temática eu acrescentava que não existem estados puros, isto é, o tudo e o nada não existem e são ao mesmo tempo a mesma coisa por definição.

Para finalizar deixo aqui um dos muitos diálogos entre as 2 personagens:

"- Já reparaste que se dão nomes aos barcos e não aos aviões?

- Nunca tinha pensado nisso.

- A razão é porque os aviões são produzidos em massa e os barcos não.

- Olha que estás enganado. Os barcos e os aviões podem ser produzidos em massa e são ambos meios de transporte.

- Colocar nomes aos meios de transporte é perigoso. Já reparaste se os autocarros tivessem nomes, as pessoas preferiam andar no autocarro ‘lebre’ em vez do ‘mula’. Acho que todos deixariam passar a mula para entrar na lebre.

- Já sei. Colocamos nomes às coisas que temos ligação afectiva, como acontece com os animais de estimação.

- Não sei. Achas que eu tenho alguma relação afectiva com a estação de S.Bento e ela tem nome. As coisas imóveis adquirem o nome dos lugares.

- Tens razão. Se fosse possível trocar a estação de S.Bento pela a de S. Apolónia, pedra por pedra, a de S. Apolónia passava a S.Bento e vice-versa. As coisas imóveis existem por causa dos lugares e ganham o nome dos lugares.

- Achas que se eu me mantivesse imóvel sem me mexer ganharia o nome do lugar aonde eu estou. Vou ficar aqui parado e vou ficar com o nome do lugar.

- Mas tu já tens nome.

- Tens razão. Com essa é que me apanhaste.

Depois de um breve silêncio, ouvi o motorista abrir a janela, julgo ter sido a flatulência do meu gato a manifestar-se".

Obviamente que eu não tenho paciência para fazer o copy / paste do texto do livro, pelo que fica aqui a ideia principal desta passagem genial.

Já agora se virem o carneiro selvagem fujam. Ele anda aí e quer construir o seu império. Se ouvirem a pastar dentro da cabeça e se sentirem momentaneamente muito inteligentes já foram apanhados. Ele já vos está a usar e quando vos abandonar nunca mais vão ser os mesmos.

Boas leituras
Daniel Silva